Deixe-me contar uma história. Que ainda não veio a público, mas que já não pode ser mais escondida. Internamente, parte (considerável) do PSB do governador João Azevedo demonstra abertamente que não é mais favorável à reedição da aliança com o prefeito Cícero Lucena para as eleições de 2024.
Algumas lideranças já dizem isso sem constrangimento em conversas reservadas. E já o fazem na presença do próprio governador. Que escuta tudo, antes rechaçando a tese. Agora, mais calado.
Ao público, no entanto, até agora, foi reservado apenas o acesso a algumas declarações como a do presidente do PSB paraibano, deputado federal Gervásio Maia, que introduziu a tese de que o partido “deve discutir candidatos nos 223 municípios”, o que pela matemática incluiria a Capital.
Publicamente, João Azevedo, vale ressaltar, sempre reafirmou a aliança. Nos bastidores, entretanto, a tese de candidatura própria é nutrida em silêncio por muitos daqueles que fazem o pelotão de frente do PSB na Paraíba. Alguns, inclusive, ainda sem engolir o esforço feito por Cícero para eleger o filho, atual deputado federal Mersinho Lucena.
A tese principal é que João, reeleito governador, não poderia abrir mão de ter um candidato do PSB a prefeito da Capital. De que a situação de João Azevedo permite e impõe até que ele reforce o avança do poder de sua legenda. Ou seja, não se trata de nada pessoal contra Cícero. Mas de estratégia de conquista e ampliação de poder.
De fato, não é comum que um governador da Paraíba não seja protagonista nas disputas de João Pessoa ou Campina Grande, ao menos. O partido de Azevedo, por ora, está fora das duas. Da mesma forma que ficou de fora da eleição para presidência da Assembleia Legislativa. Partidários socialistas, portanto, reivindicam o tamanho devido ao PSB.
Alegam ainda que, no caso de Cícero, a relação está quite. João apoiou Cícero em 2020 e Cícero apoio João em 2022. Com o detalhe que o primeiro venceu em João Pessoa. E o segundo perdeu, o que num acerto de contas apontaria déficit para o governador.
Destacam ainda as eleições estaduais em que, defendendo a reeleição de Cícero, o PSB somente estaria fortalecendo a candidatura de lideranças fora da legenda nas eleições de 2026. No fundo, socialistas reclamam da falta de espaços no projeto de Cícero. Querem uma prefeitura grande para chamar de sua.
Junto com as leituras políticas, alguns socialistas apimentam a tese com uma visão crítica da gestão de Cícero. Concordam com a tese dos oposicionistas de que a atual gestão ainda não disse a que veio, e que tem problemas profundos na prestação de serviço, especialmente na saúde. E que não apresentou obra alguma de impacto, sobrevivendo das intervenções em mobilidade urbana executadas pelo governo do Estado.
O fato é que a manutenção da aliança com Cícero hoje no PSB é a excepcionalidade. A regra é o rompimento. E os socialistas querem acelerar o movimento para dar tempo de construir a alternativa própria. Os pretensos candidatos não escondem a ansiedade.