Quem está pronto para subestimar o radialista Nilvan Ferreira na disputa pela prefeitura de João Pessoa poderá ter surpresas.
Os desafios do menino negro, de Cajazeiras, de origem humilde, que veio pra Capital vencer na vida e acabou muito conhecido como apresentador de programa popularesco de TV diante de uma cidade como João Pessoa, cosmopolita e silenciosa quando o assunto é preconceito e conservadorismo, são muitos.
Ele precisará expandir seu esteriótipo a fim de vencer os limites do diálogo com parte da chamada “classe C” para atingir outros nichos e públicos, especialmente da tal “classe média pensante” ou “classe alta
de nariz arrebitado”.
Mas, afora e independentemente disso, o que Nilvan demonstrou na sua primeira aparição na TV exclusivamente como pré-candidato a prefeito de João Pessoa, foi que está completamente disposto a ir além do radialista gritador.
Além do debate anti corrupção e anti político que fez escola na eleição presidencial de 2018,
ele revelou que anda estudando a cidade. Apontou caminhos específicos.
Discutiu projetos ou esboços de projetos que ainda não se encontra com tanta clareza nos demais nomes em disputa, mesmo aqueles que já tem experiência de gestão , salvo raríssimas exceções.
“Há vários anos sou uma esponja desta cidade, absorvendo e reclamando de todos os problemas que seu povo enfrenta”, destacou no Frente a Frente, da TV Arapuan.
Ele demonstrou realmente isso. De tanto “absorver”, sabe apontar as feridas a capital paraibana.
Inclusive, o que parece faltar até agora no debate, no enfrentamento das questões tocadas ( ou negligenciadas) pela gestão do prefeito Luciano Cartaxo.
O que surpreendeu, no entanto, foi exatamente o fato dele não se limitar apenas à crítica.
Ele apontou sugestões. Esse é o ponto. É o plus.
O povo conhece, em parte, o Nilvan que bate forte. Mas se ele ficar só na pancadaria, inclusive, talvez não vá muito mais longe do que aqueles antigos candidatos do PT ou dos partidos da extrema esquerda (PSTU, PCO, PSol), que fazem sucesso em debates, mas não avançam muito nos votos.
Quem achar que ele se limitará a bater vai se surpreender quando ele começar a propor.
Isso não fará dele o vencedor indiscutível nem por antecipação, obviamente.
Como eu disse, ele tem outros desafios a vencer. Mostrar ao pessoense que torce o nariz
para o “popularesco” em todos os sentidos é um desafio.
Mostrar-se desenvolto em assuntos que atraem os olhos da classe artística, cultural,
acadêmica, esportiva, do jovem de classe média e casse média alta, e rodear-se
de gente com tal verniz na campanha, na vida e na proposta de governo poderá ajudar
muito.
Guardadas as devidas proporções, vimos claramente um processo de “alargamento” da imagem com Lula em 2002.
Até então, o Lula sindicalista, de 89, que defendia rompimento com o FMI e não
pagamento da dívida externa, havia perdido três eleições presidenciais. Porque tinha uma base. Mas gerava
ou medo ou resistência do “mercado”.
A expansão da postura, do pensamento, do discurso, das ideias e até da imagem física,
além das composições políticas, que culminou com o José de Alencar, empresário da elite branca,
como vice, foi o que levou Lula a falar, naquela época, para mais gente.
Voltando a Nilvan, o objetivo, neste caso, é furar a bolha em que ele se encontra. Uma bolha que já
traz um percentual de votos para o início. Mas, que se permanecer estática, não
é suficiente para o fim.
O surpreendente e que merece aviso aos navegantes é que Nilvan deu sinais de que
tem consciência disso. E está completamente disposto a alargar-se no cenário.
E a ser um dos protagonistas nesta eleição.