Quando escreveu o Elogio da Loucura em 1511, Erasmo de Roterdã talvez não soubesse que sua obra perdurasse moderna por tanto tempo e pudesse ser usada ainda hoje. Uma das lições da obra é de que somente os loucos podem ser plenamente felizes porque não tem noção da realidade. É mais ou menos assim que classifico aliados do governador João Azevedo (PSB) fazendo-se de desentendidos a respeito das declarações do governador destacando que tem “total confiança” no vice-governador e que Lucas será (sim) o candidato ao governo caso João assuma a cadeira em abril de 2026.
O recado de João é claríssimo, especialmente para o PSB e seus aliados mais próximos. A tradução para quem se finge de doido para escapar à realidade seria mais ou menos assim: se acostumem com a possibilidade de Lucas Ribeiro estar na cadeira de governador porque João Azevedo está cada vez mais convencido de que o melhor para si é uma candidatura ao Senado da República.
Quando ele diz “tenho total confiança que Lucas vai continuar com este trabalho” é um sinal de que espera do vice-governador a sustentação da sua candidatura ao Senado quando estiver fora do governo e, ainda, um acolhimento dos socialistas que ficarão “órfãos” após a saída do governador. Mas, principalmente, quer dizer que Lucas não é um problema, como alguns sinalizam, para a manutenção da aliança, visto que é essa paz que o govenador quer para ser senador.
Assim, o próprio João toma para si a missão de credenciar o vice-governador. Para assegurar a própria tranquilidade e, em parte, a tranquilidade dos demais. É uma espécie de “gente, parem de fazer cara feia quando digo que vou sair porque Lucas vai dar conta do recado”. João age como um pai que prepara os filhos para ficar sob os cuidados da tia na escola.
Para Lucas, a fala de João é um certificado ISO 9000. Uma declaração de aprovação na escola da maturidade. Porque é feita pelo governador do alto dos seus 70 anos, com conceito de gestor experiente e competente. Uma recomendação que credencia Lucas Ribeiro a fazer sua parte. É como se o vice-governador fosse para entrevista de emprego com aval do dono da empresa.
Agora, diferentemente dos loucos de Erasmo, é só Lucas não se fazer de desentendido. E agir racionalmente.