Está na Bíblia. No Evangelho de Mateus. A boca fala daquilo que está cheio o coração.
Em menos de um mês, o fantasma do Ato Institucional número 5, considerado o mais cruel câncer da democracia, volta a assombrar a pauta nacional. Depois do filho do presidente, o deputado federal Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), foi a vez do ministro da Economia, Paulo Guedes, que até então estava fora do debate político.
Em entrevista nos Estados Unidos, Paulo Guedes insinuou que se o povo for para rua, como em outros países da América Latina, o Brasil não se espante se vier um novo AI 5, aquele mesmo que acaba com os direitos democráticos e da superpoderes ao presidente da República.
Que vontade incontida é essa? Que desejo incontido é esse que a cada momento membros do governo Bolsonaro evocam o passado para o presente? E olhem que nem são os militares.
Quer dizer que protesto só é bom se for a favor? Se for para aplaudir. Ou bater nos adversários. Se for protesto contra, é AI-5 neles? Ora, foi com base em protesto, em muito protesto nas ruas, que a candidatura do “Mito” foi gerada e cresceu até conquistar uma vitória histórica nas eleições, acabando com 16 anos de domínio de PT.
Se houver exagero em protestos, convocados pelo ex-presidente Lula ou por quem quer que seja, já há leis e instrumentos para coibir e punir os eventuais excessos.
Fora isso, qualquer pensamento, não se sustenta evocar o AI-5. Só pode ser uma vontade que não cessa.
E que não imaginávamos que também acometesse o ministro Paulo Guedes.
Que fará muito bem ao país se se mantiver no campo do debate econômico. Deixando os deslizes verbais apenas para o presidente.