Tudo na vida tem vantagem e desvantagem. Ser deputado do governo também. Fosse um oposicionista, o deputado estadual Chió (Rede) teria sido aclamado entre seus pares pelo discurso que fez na tribuna da Assembleia Legislativa alegando que no lugar de comemorar a recuperação do funcionamento dos carros pipa “em pleno século 21”, a Paraíba deveria ter água na torneira de todos os moradores do estado.
Errado, errado ele não está. Mas entre o certo no mérito e o conveniente na política existe um oceano no meio. Direta ou indiretamente, a fala do deputado governista foi uma das mais duras críticas disparadas contra o governo João Azevedo nos últimos tempos, especialmente porque o próprio governador tomou para si a luta pela volta dos carros pipa e cumpriu agenda em Brasília neste sentido. Além disso, no geral, foi uma pancada no discurso de investimentos hídricos do estado, tão alardeado pela atual gestão que conduz inúmeros projetos de construção de açudes, barragens, adutoras e canais.
Saiu bem na fita da população. Mas não na dos seus companheiros de base política. Porque, na verdade, todo governista, em algum momento, tem uma vontade de fazer uma crítica ao governo e esperar o aplauso popular. Reprime-se por causa da adequação política. Por causa da parceria.
O gesto libertário de Chió revolta seus colegas que consideram uma desigualdade, uma vez que entende que a regra de todo governista é comer o filé, mas também roer o osso. Fala-se que Chió quis lacrar e errou na dose. Diz-se que ele reagiu às eleições municipais de 2024 quando não teria recebido o apoio do governo em sua cidade. Independentemente da causa, vale agora refletir sobre o chiado que o discurso do deputado provocou para o futuro.
Fontes do governo, nos bastidores, reagiram com indignação a fala do parlamentar governista. Explicaram que Chió deveria saber que carro pipa serve a zona rural bem remota onde é difícil inclusive de construir cisternas e poços artesanais.
Como ainda há muito tempo até chegar 2026, e muita água deve rolar por debaixo da ponte, o deputado terá muitas outras oportunidades de se redimir junto ao governo. Caso contrário, será colocado numa lista onde os aliados costumam ficar com sede…