O mundo será bem melhor quando adulto algum considerar que, para satisfazer seus desejos animais, pode livremente abusar sexualmente de uma criança inocente e indefesa. Enquanto isso não for completamente possível, no entanto, é fundamental que os pedófilos, ao menos, sejam rigorosamente punidos pelos atos.
Não conseguir “sonhar” ao menos com punições severas é o cúmulo do pesadelo. O caso do pediatra Fernando Paredes Cunha Lima estava beirando a um pesadelo daqueles que você, perseguido por monstros, quer acordar e não consegue.
Ele é acusado por famílias, entre elas a sua própria, de abusar por vários anos de várias crianças, seja no exercício de sua profissão, seja no exercício da sua condição de parente. Detalhe: famílias que não tem relação entre si.
E mesmo assim estava livre, leve e solto, entronizado no poder de sua posição na sociedade paraibana, procurando minimizar os casos deixando no ar a sensação de que eles pudessem ser vistos como coisas antigas, inventadas, já passadas e superadas. Somando ainda a este quadro sua idade e condição de idoso para escapar das garras da lei, gerando uma condição mais de vítima do que algoz.
Aceitar isso, entretanto, seria o mesmo que passar para os pedófilos, os de hoje e os de amanhã, que estejam livres para abusar de crianças, desde que não sejam descobertos, até a velhice. Aí, atingindo esta Tróia criminosa, estariam livres para contabilizar nas memórias as lembranças de suas monstruosidades. E, quiçá, se a oportunidade aparecer, cometer mais um ou outro abuso.
Foi preciso que a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça pudesse, atendendo à provocação do Ministério Público, desmontar, tecnicamente, um a um, os pontos apresentados pela defesa do médico e decretar sua prisão para que preencher o vazio que até então o caso sustentava.
A saber, manutenção da ordem pública, já sociedade alguma fica tranqüila diante da existência de tal personagem; bloqueio de continuidade do ato delituoso, uma vez que o médico, mesmo tendo se aposentado, é acusado de abusar não apenas de pacientes, mas de familiares; e, ainda, o impedimento de interferência no julgamento, visto que há informação de que ele teria ligada para a mãe de uma das vítimas após a denúncia ser formulada. Por fim, a questão da idade que não serve de carta branca para cometer crimes.
“Doutor” Fernando, todavia, não foi encontrado para que a decisão fosse devidamente cumprida. Até a publicação deste artigo, a propósito, Fernando Paredes Cunha Lima, estava foragido.
A fuga gera revolta. Claro. Mas fugir é o destino de quem deve. Não um jantar num restaurante de luxo ou um veraneio em Cabedelo.
Ao menos, neste caso, começamos a despertar do sono profundo da impunidade.