A tese é simples. Político que não gosta de dar entrevistas não se projeta para cargos majoritários. Pelo método indutivo chega-se facilmente a esta conclusão. Analise: todos os políticos que tem mandato majoritário mantêm ou mantiveram uma agenda regular de exposição no rádio e na tevê, externando suas ações, opiniões e até contradições.
E a regra vale da presidência da República, passando pelo Senado, até prefeituras. Só excluímos pequeníssimos municípios onde um “coronel” é capaz de eleger seu “laranja” analfabeto. Fora isso, os cargos majoritários de espaços importantes são reservados para quem se permite confrontar diante de jornalistas, falando para veículos de comunicação de massa.
Quem não se expõe à vivência nos veículos de comunicação em permanente fluxo de mensagens e informações sobre si e sobre o mundo que o circunda se limita a conviver nas disputas proporcionais, fazendo cálculos para se eleger e manter o mandato. Pode até ser feliz com isso, mas não pode almejar algo mais.
Lula e Bolsonaro, por exemplo, tem um roteiro de entrevistas desde o início de suas jornadas majoritárias. Aliás, o ex-presidente tinha tudo para ser mais um político tradicional quando resolveu virar “mito” a partir de suas declarações exatamente em entrevistas polêmicas.
Não significa dizer que basta dar entrevistas para ser um político de sucesso eleitoral. Existem, obviamente, outros fatores, incluindo o conteúdo sobre o que falam nas entrevistas, para tal. E, para isso, existem os profissionais do marketing político.
O que se pretende deixar claro é que a presença na mídia tradicional facilita a construção e preservação de uma imagem de liderança que aproxima o político do eleitor e, naturalmente, vai ajudá-lo quando das disputas eleitorais.
E quando enfatizo “mídia tradicional” é de propósito, porque não vale estar bem nas redes sociais. Não ! As mídias digitais fazem parte de um todo, são complemento, atrativos. Mas o que forma uma liderança é a capacidade de se expor em ambiente dos outros. A sua página no Instagram é sua, é confortável. Um programa de rádio com jornalistas, não. É aí que o povo quer vê-lo e ouvi-lo. Da mais credibilidade.
Na Paraíba, a regra se repete matematicamente. Os principais nomes de mandato ou disputa majoritária são todos assíduos freqüentadores de entrevistas. Até o governador João Azevedo, conhecido pela sua discrição, sempre atendeu pedido de jornalistas enquanto secretário de Estado para falar de suas ações à frente das pastas que ocupou antes de assumir o maior cargo do Executivo paraibano.
No Senado, o axioma se repete. Veneziano Vital do Rego, que já foi prefeito duas vezes de Campina Grande, Daniella Ribeiro e Efraim Filho nunca “esqueceram” as tribunas midiáticas da Paraíba. Foram e são figuras de presença regular na mídia local, mesmo sem esquecer de avançarem no Congresso, tanto que são, respectivamente, vice-presidente do Senado, líder da bancada feminina no Senado e líder do União Brasil. Tem nomes sempre lembrados para disputas majoritárias, para prefeituras como Campina Grande e João Pessoa ou até mesmo para o governo.
Para virar majoritário sem ter agenda de mídia tradicional, somente sendo vice que assumiu por vacância do titular. Vide os saudosos José Maranhão e Luciano Agra.
Na disputa pela prefeitura de João Pessoa, por exemplo, apenas os nomes com perfil de presença na televisão e no rádio estarão na disputa. Cícero Lucena, Ruy Carneiro, Nilvan Ferreira, Luciano Cartaxo , entre outros, se colocam competitivos porque são e sempre foram nomes de exposição ao microfone. Vá para Campina Grande ou para qualquer outro município ( de grande porte, vale repetir) para perceber que a regra é basicamente a mesma. Olhe as opções para o governo e para o Senado que estão na boca do povo para as eleições de 2026 e note que a regra também se encaixa.
Perceba que o mesmo não acontece com figuras como Aguinaldo Ribeiro e Wellington Roberto. Dois deputados federais paraibanos mais articulados em Brasília, mas que não conseguem sequer colocar o nome para disputar a prefeitura de Campina. Eles são enormes em Brasília, mas tem pouco conceito na Paraíba porque são avessos à exposição aos veículos locais. Estão, portanto, destinados a serem reprodutores de seus mandatos proporcionais pelo resto da vida, o que não de todo ruim, obviamente.
O jovem deputado Hugo Motta, líder da bancada do Republicanos, parece se dirigir pelo mesmo caminho. Ele até está com o nome cotado para ascender politicamente, mas se continuar trilhando a trajetória de sucesso em Brasília e distanciamento midiático na Paraíba acabará caindo na lista de estatísticas daqueles que tinham tudo para ser, mas não são.
Neste sentido, dar entrevistas, estando, claro, bem preparado, é mais do que atender pedidos. É construir degraus para ascender politicamente.
Tanto é assim que quando um político se coloca na condição de candidato majoritário a primeira coisa que sua equipe prepara é uma agenda de entrevistas. Ou, no sentido inverso, quando percebemos determinada figura política aparecendo demais em rádio e televisão, já atestamos: “Esta alma quer reza”.
Mas isso é só uma tese. E para quem discorda sugiro que vá ao rádio e a tevê dizer a razão.
Luís Tôrres
Jornalista
Especialista em Marketing Político
Professor de Jornalismo
Apresentador da TV Arapuan e Arapuan FM