Sejamos claros. Nicolas Maduro tem tudo aquilo que Lula abomina em Bolsonaro.
A diferença é que um é de esquerda. E o outro de direita.
O primeiro é o filhote de um modelo ditatorial implantado pelo seu antecessor e o segundo não conseguiu avançar no seu intento.
Ambos, no entanto, – Maduro e Bolsonaro – possuem intimamente a mesma característica autoritária, com desejo íntimo de que tudo que se mova dentro de um país esteja abaixo de suas vontades e ideologias pessoais.
Portanto, o Lula que critica o antecessor por toda uma postura anti democrática não poderia encontrar qualidades no amigo venezuelano. Não poderia sequer cegar ante os impulsos ditatoriais do amigo da esquerda.
Não se trata de reproduzir o discurso demagógico ( e esquizofrênico) da direita de que “o Brasil vai se transformar numa Venezuela”. Ao contrário, ao livrar o Brasil de Bolsonaro, Lula distanciou o Brasil de ser uma Venezuela à direita.
Nem se trata de ser contra a construção de oportunidades comerciais entre países, que adotam modelos de governo distintos. Relações comerciais entre empresas e nações para aquisição de produtos e serviços – desde que mercadorias lícitas – são benéficas para ambas as populações, pois, t-e-o-r-i-c-a-m-e-n-t-e, movimentam mercados, geram emprego. E essas podem sim ser travadas para além da postura ou forma de governo de cada uma das nações.
Mas paremos por aí. Elogiar, defender, minimizar, blindar, abraçar, sorrir, festejar um líder que possui características que você abomina no seu adversário interno é, no mínimo, incompatível.
E foi o que Lula fez para um mundo abismado com tamanha contradição.
Ora, Maduro conseguiu, sob métodos questionáveis por Lula ao avaliar o governo Bolsonaro, manter a ditadura implantada pelo antecessor, Hugo Chavez. A única diferença em relação a Bolsonaro é que o brasileiro, não. Foi apeado do poder antes disso por um Lula que se revestiu da condição de salvador da democracia e, de fato, livrou o Brasil de uma ameaça permanente de um discurso inspirado no ódio contra ministros do Supremo e parlamentares do Congresso. (Alguma semelhança com Maduro?)
Um presidente que batia nas urnas eletrônicas, questionava resultado de eleição, tornava suspeito tudo aquilo que não gritasse “mito” em posição de arminha. Maduro deve, em seu íntimo, admirar Bolsonaro.
Aliás, o presidente da Venezuela não gosta de imprensa. Bolsonaro também não. Qualquer pergunta fora do roteiro pode terminar em agressão verbal ou física. Ambos só respeitam seus “exércitos”. Governam para uma base. Detestam eleições efetivamente livres.
Tudo o que Lula condenou para combater a gestão passada.
E que, indiretamente, parece ter absolvido, dando, estes dias, demonstrações claras de que, com certeza, já perdoou Bolsonaro por tudo o que ele fez contra a democracia…