Tá em todo canto. E todo mundo repete. João Pessoa é a bola da vez. É a melhor cidade para isso, a melhor cidade para aquilo. E nem precisa ler pesquisas, rankings e afins. No dia a dia, encontramos em JP pessoas de fora que escolheram nossa cidade para viver. E de todas as classes econômicas.
Antes, até pouco tempo, algo restrito a aposentados. Hoje, ampliado a pessoas em plena atividade econômica. Seja em razão da expansão do trabalho remoto, pela qual você pode ser funcionário de uma empresa no Japão, mesmo morando num flat no Cabo Branco, seja pela expansão local dos empregos e alternativas de abertura de negócios.
A escalada do crescimento gastronômico e no setor imobiliário é, ao mesmo tempo, causa e conseqüência desse fenômeno.
Some isso a uma cidade que a orla continua como se vivêssemos séculos atrás e o sol tira poucas semanas de férias. Temos a impressão que o “mundo” descobriu a capital da Paraíba. E a que elegeu como capital do paraíso. Saímos do estágio “onde fica João Pessoa” para “quero morar em João Pessoa”.
E, antes que algum político qualquer se vanglorie e tome para si os méritos, cortemos logo suas asas. Salvo uma ou outra intervenção, feitas ao longo de vários anos, e fruto de contribuições diversas, esse fenômeno não tem nada a ver com eles (políticos).
Se não, então, por que isso está acontecendo?
Os fatores são muitos e variados. Mas para começar resumamos em uma frase: somos a bola da vez porque estávamos completamente fora do mundo.
E isso fez e faz de João Pessoa uma capital muito mais tranqüila, agradável e habitável em comparação com as demais capitais brasileiras, muitas delas inchadas com todos os problemas sociais e, algumas delas, claro, sem o clima nem nossas belezas naturais.
Ou seja, ao longo dos anos, saímos do nada para alguma coisa. Foi o nosso não existir por muito tempo que fez com que entrássemos no radar de quem quer morar num paraíso sem os problemas atuais, tais como violência exarcebada, trânsito caótico, desorganização urbana.
O pior é que nós que moramos aqui já sentimos todos esses problemas. Mas não temos o parâmetro dos moradores de fora, que trazem suas experiências traumáticas. E maximizamos algo que para os visitantes ainda é luxo. “Na minha cidade, era muito pior”, é o que mais ouvimos.
Esses dias, por exemplo, encontrei uma família que deixou Gramado, no Rio Grande do Sul, para morar em João Pessoa. Mas por que? “Lá chove demais!”.
Onde está o risco? De ultrapassarmos a barreira do paraíso. De comermos a fruta proibida.
Toda a capital, especialmente as do Nordeste, já foi a bola da vez algum momento. E, no caso, há muito tempo. Foi assim com Recife, Natal, Salvador, Fortaleza. Qual o resultado? Nem precisa responder. A violência, as drogas, a prostituição, os bolsões de pobreza, o trânsito louco, entre outros males de cidades que estouraram de tanto sucesso. Não da para dizer que João Pessoa está livre de tudo isso. Não! Mas temos em nível menor, minimizado em comparação aos “grandes”. É daí, como disse, que vem parte do nosso sucesso.
Veja que não estamos falando de crescimento turístico. Para este, inclusive, ainda temos muito que avançar, e por isso esperamos as construções dos resorts no Pólo Cabo Branco e, especialmente, a garantia de uma melhor malha área, pois ainda somos interior quando se fala de vôos.
O boom de João Pessoa é de gente que quer morar na cidade. Trazer a família para viver esse bucolismo tropical.
Crescer sem chegar ao estágio em que nós mesmos vamos querer sair da cidade e procurar outra Macondo para viver é o nosso grande desafio.