Em 2010, o então prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, estava em seu segundo mandato, para o qual foi reeleito com votação convincente, desfrutando de boa avaliação, e com um vice-prefeito de confiança. Um cenário, como se diz no interior, cagado e cuspido ao de Cícero Lucena nos dias de hoje. O resto da história todos conhecem. Ricardo deixou a prefeitura em abril para disputar o governo da Paraíba e derrotou José Maranhão que estava na cadeira de governador.
Cícero pode até nem querer dispor desta analogia, em razão das diferenças que sempre teve com Ricardo, mas, na política e na história, toda tese do presente precisa ter como base uma referência no passado. E Cícero tem uma bem pertinho dele. O que nos faz apontar que não será surpreendente se o projeto do atual prefeito de João Pessoa de disputar o governo do Estado nas eleições não esteja completamente condicionado às conveniências dos demais líderes que compõem hoje a base governista na Paraíba.
De forma bem direta, Cícero pode estar se encaminhando para ser candidato ao governo de qualquer jeito, sem precisar de aval de seu ninguém. Para isso, basta ter um partido e fechar apoio de Léo Bezerra, seu Luciano Agra de hoje. Ele deixa a prefeitura, mas deixa alguém para fazer da capital sua plataforma política.
Tem, inclusive, uma vantagem sobre Ricardo daquela época. Cícero já é um nome estadualizado. Ricardo precisou dos valiosos serviços do ex-governador Cássio Cunha Lima para andar a Paraíba e ser apresentado nos municípios.
Claro que isso não significa dizer que Cícero não iria fazer política. É obvio que antes de decidir ir sozinho ele irá procurar construir apoio a sua candidatura junto ao PP de Aguinaldo Ribeiro, junto ao governador João Azevedo, do PSB, e Hugo Motta, do Republicanos . Mas se só receber não pela frente tem condições de partir em carreira solo. Com uma vantagem eleitoral e política que poucos terão na disputa.
De toda forma, estou convencido de Cícero Lucena, caso vá avançando nos números, será candidato ao governo independentemente dos outros. Ele sabe que o tempo dele é este. Já não é lá mais um menino. E se deixar passar esse momento de “transição”, talvez não encontre melhor cenário mais à frente, em 2030 ou 2034. As circunstâncias são favoráveis, embora não definitivas, como eram para Ricardo em 2010.
A não ser que, no lugar de Ricardo Coutinho, Cícero queira copiar Luciano Cartaxo de 2018, que preferiu evitar a disputa ao governo ficando no cargo de prefeito. E na eleição passada ficou em quarto lugar para prefeito da cidade que já foi rei…