Definitivamente, o mundo não é mais o mesmo. Não se fazem mais, na política, rompimentos como antigamente. Não tem mais dedo na cara, ofensas, denúncias de escândalos ou quebra-quebra em convenção. Agora se combina com data e horário marcado um encontro para por fim à relação de uma maneira bem europeia.
Foi assim o fim do ciclo entre o prefeito Cícero Lucena (PP) e o governador João Azevedo (PSB), após anos de proximidade e relação, consolidados a partir da eleição de 2020 em João Pessoa. Ambos protagonizaram o rompimento mais amigável da história da Paraíba.
Claro que lá na frente não faltarão ataques mútuos, mas já na condição de adversários políticos. Refiro-me agora à ausência de ataques enquanto aliados e um rompimento no melhor estilo duelo de faroeste.
Cícero disse adeus a João reafirmando uma candidatura ao governo que não era compatível com o desejo do governador em ser senador da República. O porquê de Cícero ter se antecipado quando se esperava que ele puxasse o tema até abril supõe várias justificativas. Independentemente de cada uma delas, o fato é que o prefeito de João Pessoa queimou as caravelas e sua decisão não tem mais volta.
Para a coisa ficar ainda mais nítida, o governador João Azevedo disse publicamente que não aceita ser apoiado por Cícero para o Senado. Seja porque não acredita que isso pudesse realmente acontecer (vide artigo anterior), seja porque não teria como justificar esse recorte para seus aliados, em especial o Republicanos e o PP.
Coincidência ou não, o fato é que Cícero já não registrou o tal apoio a João para o Senado na nota que fez circular para imprensa logo após o encontro.
Em suma, João recusou o rompimento pela metade, pondo fim a mínima possibilidade de alguém manter uma perna na barca do governo do Estado e outra na prefeitura de João Pessoa. Como eu disse na Arapuan FM, acabou-se o tempo da neutralidade.
E, desta feita, o decreto foi assinado pelo atual governador. Frustração entre secretários, vereadores, deputados, prefeitos…e outros.
Cícero agora está livre para fechar suas alianças e construir suas candidaturas com as forças que estão no jogo. Do ponto de vista eleitoral, representa uma grande força contra a candidatura governista. Uma vez que Cícero parte bem de João Pessoa, vai trabalhar para conquistar Campina a partir de Veneziano Vital do Rego e, quiçá, os Cunha Lima, e não é um desconhecido completo no resto do estado.
Por incrível que pareça, no entanto, já que o rompimento era inevitável, quem mais deve comemorar, não o fim, mas a clareza do fim desse ciclo, é o vice-governador Lucas Ribeiro, que agora ganhou para si “um governador só seu”. E poderá potencializar sua candidatura “à reeleição” desvencilhado da poderosa sombra que Cícero projetava sobre suas pretensões.
O reflexo deste novo cenário deverá ter consequências nas ocupações de cargos e nas políticas públicas de parceria firmada entre a prefeitura de João Pessoa e o governo. É obvio que não será mais do jeito que é. E será preciso avaliar quem perderá mais com isso. Alguém arrisca ?
Se não conseguir responder esta pergunta, exercite outra. Para onde vão Pedro Cunha Lima, Romero Rodrigues, Bruno Cunha Lima ?
Vão ficar com Cícero ou vão no foguete de Efraim Filho, que já montou casa alicerçada no bolsonarismo do PL ?
Caso também tenha dúvidas, fique o leitor com uma contestação. Cícero acabou de aniquilar as pretensões dos Cunha Lima em serem protagonistas das eleições de 2026. Efraim tinha acabado com metade disso. E o prefeito de João Pessoa completou a outra metade hoje.
Agora, a Paraíba se divide em três possibilidades de governadores. E, mesmo com o mundo diferente, os eleitores com a possibilidade de acompanhar uma das eleições mais animadas da história desse estado.