Cada um sabe a dor e a delícia de ser o candidato que é

O contorno das eleições 2022 na Paraíba, em especial a disputa pelo governo do Estado, vai ganhando nitidez a cada episódio da série. Distante praticamente sete meses do dia 2 de outubro, o cenário já apresenta quatro candidaturas competitivas sustentadas por partidos ditos tradicionais, e de relativa estrutura eleitoral, a saber o próprio governador João Azevedo (PSB), o senador Veneziano Vital do Rego (MDB), o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) e o apresentador Nilvan Ferreira (PTB).

Além do anúncio feito pela atual vice-governadora Lígia Feliciano, que garante manter candidatura apesar de até agora não apresentar apoios que não sejam o PDT, legenda comandada pela sua família, e o próprio marido, deputado federal Damião Feliciano. Cada qual chegou aonde chegou por caminhos variados, e apresenta, naturalmente, fraquezas e potencialidades diversas, o que torna esse pleito, de largada, mais dinâmico e imprevisível do que o de 2018.

Para situarmos melhor no quadro, e entender um pouco melhor o que por aqui se passa, apresentamos abaixo, por ordem alfabética, breves considerações acerca das qualidades e dos desafios de cada um dos postulantes. Diminutos perfis individuais que não pretendem, ao final, cravar definitivamente ganhador e perdedores. No máximo, ao final, tornar inevitável o clássico “que vença o melhor”.

João Azevedo – Eleito em 2018 embalado por uma indiscutível aprovação popular à gestão do ex-governador Ricardo Coutinho, do qual fazia parte como conceituado e atuante secretário, o governador João Azevedo tenta agora sua reeleição com base na avaliação de seu próprio governo. Só o fato de ser reeleição já entra, genericamente, em vantagem diante dos outros, visto que estatísticas apontam em maior número caso de sucesso eleitoral de um gestor em processo de reeleição. Para se ter uma idéia, todosos governadores do Nordeste que tentaram a reeleição em 2018 saíram vitoriosos das urnas, à exceção do então governador do Rio Grande Norte, Robson Farias, que já perdeu no primeiro turno. Objetivamente, é preciso estar muito ruim popularmente falando para não ser reeleito. Não é, por ora, tendo ressalvas ou não a fazer sobre a gestão, o caso do governador João. De acordo com as últimas pesquisas divulgadas, ele apresenta índices razoáveis de aprovação e vantagem eleitoral. Mas todos são unânimes em dizer, entre aliados e oposicionistas, que o governador está longe de se colocar numa posição confortável. Como se diz em política, não tem gordura. E tem problemas para resolver na gestão, como segurança pública, abastecimento de água em algumas regiões, além do natural desgaste provocado por medidas de combate à Covid. Mas como é o governador tem diante de si toda uma capacidade de conduzir como fará política e gestão até o dia 2 de outubro, corrigindo erros de gestão, apostando em massificação daquilo que diz ter feito, e principalmente fazendo política, atraindo apoios políticos. Já demonstrou como se faz isso em evento de filiação ao PSB. Vai precisar de habilidade também para, de forma salomônica, resolver o impasse de ter dois pretensos candidatos ao Senado disputando vaga em sua chapa, os deputados federais Efraim Filho (União Brasil) e Aguinaldo Ribeiro (Progressista). A dúvida é saber se conseguirá manter os dois como aliados mesmo escolhendo somente um deles. De tudo, no entanto, para fechar, o maior desafio de João é apresentar-se como líder, com uma identidade. Como tem uma postura mais discreta, de quem trabalha mais “para dentro”, se distancia da figura mítica que o povo costuma cultuar na política. João não tem mais padrinho a não ser os próprios atos.  E são eles que estarão a ser julgados em outubro.

 

Veneziano Vital do Rego – O que falta em João Azevedo em postura de movimento político sobra no “Cabeludo”. Com seu jeito peculiar de fazer política, é o político do contato, da relação humana, mestre na arte de distribuir simpatia. Soma-se a isso uma indiscutível habilidade oral, que assegura a Veneziano a capacidade de procurar convencer pelo verbo. Senado até 2026, vai disputar uma eleição sem se preocupar com o emprego após o domingo da eleição, independentemente do resultado. Politicamente, embalou sua (pré) candidatura com a força eleitoral na Paraíba do ex-presidente Lula, costurando aliança com o PT Nacional. Mais um ponto positivo dado à indiscutível popularidade que Lula desfruta especialmente no interior do Estado. Mas as vantagens param por aí. Daqui pra frente, Veneziano só encontra desafios e dificuldades na sua caminhada. A primeira delas está exatamente no cenário em que o governador João Azevedo impôs ao se filiar ao PSB, partido que apóia Lula para presidente e, naturalmente, espera ao menos um distanciamento do petista na eleição para o governador da Paraíba. Ou seja, querendo ou não, Vené sabe que vai ter que “dividir” Lula com João. Houve quebra da exclusividade. E quando isso acontece mesmo quem fica apenas com uma lasquinha do bolo por inteiro, como foi o caso de João, sai cantando vitória. Veneziano também terá que lutar para não ficar a campanha inteira “se defendendo pelos outros”. Ou seja, defendendo-se dos conceitos disparados contra o ex-governador Ricardo Coutinho, com quem se aliou, em relação às ações decorrentes da Operação Calvário. Ele ainda entra na campanha diante de uma Campina Grande, sua grande plataforma eleitoral, dividida entre eleitores/simpatizantes dos Cunha Lima, que devem votar no deputado federal Pedro Cunha Lima, e os eleitores do próprio Governo, que invariavelmente, nas eleições estaduais, seja ele quem for, sempre fica com um pedaço do eleitorado. Basta lembrar que Veneziano perdeu as últimas três eleições municipais da sua cidade natal, duas delas apoiando uma candidatura e outra sendo ele mesmo o candidato. Poderíamos fechar apontando ainda que o senador emedebista teria a dificuldade de explicar porque depois de quatro anos atuando no governo João, com cargos nas estrutura, inclusive, resolveu confrontar a gestão.  No entanto, como disse, isso será facilmente contornado pela capacidade de expressão do senador. Basta dizer, como já o fez, que viu em João um governador que não conseguiu manter o mesmo ritmo de gestão que ele se acostumou a acompanhar nas gestões anteriores. Acabou o assunto. Tem condições de criticar mais do que os demais. Até porque ele já terá ainda quase um ano de “oposicionista.

Nilvan Ferreira –  Mesmo perdendo a eleição para prefeito em João Pessoa, o apresentador Nilvan Ferreira (PTB) saiu de 2020 como um ponto fora da curva na história das eleições. Foi para o segundo turno e só não deu mais trabalho ao eleito, o atual prefeito Cícero Lucena, porque os apoios dos candidatos mais fortes do primeiro turno não chegaram.  Nilvan é uma metralhadora verbal. Radialista há anos, “bate” como poucos em seus adversários. E com essa “arma” se coloca novamente na disputa, agora para governador, sempre inspirado pela popularidade que a atuação na mídia proporciona. E, sem ressalva alguma, aposta no nicho bolsonarista. Quer ser o candidato único, exclusivo e oficial do presidente Jair Bolsonaro, tendo, inclusive, o desejo de formar chapa puro sangue em favor do presidente. De cara, qualquer analista diria que isso um suicídio eleitoral, visto que segmentar-se numa eleição majoritária assim, especialmente tendo escolhido o lado que enfrenta significativa reação contrária na Paraíba. Mas Nilvan aposta na mesma estratégia de 2020 numa eleição como muitos candidatos em níveis relativamente parecidos.  Foca em entrar no segundo turno. Só precisa ter mais que um voto do terceiro colocado para isso. E, somente depois, vai tentar ter voto para ser eleito governador. Procurando evitar, inclusive, o que aconteceu na eleição passada, quando o terceiro e quarto colocados, deputados Ruy Carneiro (PSDB) e Walber Virgulino (Patriota), que tiveram votação próxima a dele, resolveram ficar neutros  e ignoraram Nilvan. Como obstáculo, o apresentador ainda precisa superar preconceitos, inclusive de que não tem capacidade para gerir um estado. Essa foi um constante na sua candidatura a prefeito de João Pessoa. Mas de lá pra cá parece ter estudado ainda mais os problemas no Estado e, em entrevistas, tem demonstrando domínio sobre dados e fatos que devem compor seu discurso durante a campanha.

Pedro Cunha Lima  – Deputado federal e filho do ex-governador Cássio Cunha Lima, Pedro é o mais jovem concorrente na disputa ao governo. Não foi o candidato prioritário do seu grupo, vez que só entrou na briga após desistência do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD). Definiu sua trajetória política lutando contra excessos dos privilégios políticos, numa tentativa de se diferenciar dos políticos tradicionais, e apresentar-se como um “político novo”. Encontra aprovação por isso, especialmente pelo eleitorado jovem. Porém, sendo neto e filho de ex-governadores da Paraíba, encontra dificuldade de ser visto tão somente pelo que faz e diz hoje, sendo constantemente confrontando com o passado da gestão dos ascendentes, mesmo que nada tenha de responsável por elas, em razão da pouca idade que tinha. Sem uma candidatura bolsonarista na disputa, poderia contar com a migração de votos dos simpatizantes de Bolsonaro para si, mesmo não sendo um defensor ardoroso do presidente. Mas, agora, com a candidatura de Nilvan Ferreira, já não poderá contar com a maioria desses votos. No entanto, tem como representar uma candidatura de oposição ao Governo do Estado que possa ser digerida tanto pelo eleitor anti-bolsonarisa quanto pelo eleitor anti lulista. Uma espécie de terceira via na disputa pelo governo da Paraíba. O desafio, por ora, é a composição de aliança política. Até agora é o único pré-candidato ao governo sem nomes apontados para candidatos ao Senado e à vaga de vice-governador. É preciso saber ainda se terá apoio empenhado e irrestrito do prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, que parece estar mais interessado em como estará para disputar o governo em 2026 do que na eleição deste ano.

 

 

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