Bolsonaristas contra Ficha Limpa e ambientalistas a favor da poluição; Cadê a lógica?

Li uma matéria apontando que bolsonaristas no Congresso querem repensar a discussão sobre a proposta, de autoria do PL, de redução da inelegibilidade de oito para dois anos para os enquadrados na Ficha Limpa uma vez que pegou mal para a direita, que se coloca como defensora da honestidade contra a corrupção “dos outros”, defender um alívio que beneficia corruptos.

Surpreso, vi nesta possibilidade autocorreção um sinal de bom senso que me parece faltar aos extremos, dos dois lados, inclusive. Feliz, na verdade, de saber que, no caso da direita, nem todos acreditam na terraplanagem. De fato, se formos analisar com base na narrativa da direita, um bolsonarista defendendo alívio de leis contra maus políticos é o mesmo que ambientalistas, com todo respeito à categoria, defendendo a poluição dos rios e das praias.

Maior contradição só a fala tresloucada de Bolsonaro, maior beneficiário da redução, que alegou em vídeo defendendo a proposta que a Ficha Limpa existe para perseguir a direita. Alguém lembra ao ex-presidente que a Ficha Limpa existe muito tempo antes dele cometer crimes eleitorais que o enquadrassem nela. Não tivesse “preenchido os critérios” não estaria sob o jugo da Ficha Limpa de hoje. Em suma, foi Bolsonaro que procurou a Ficha Limpa. Não o contrário.

De toda forma, pela tabela periódica que coloca direita e esquerda matematicamente em cada lado, um bolsonarista jamais poderia pensar em afrouxar a Ficha Limpa. Espanta – embora não deveria visto que é prática na política dos dois lados – que o casuísmo faça com que integrantes da direita apareçam com a cara mais lavada do mundo apontando a necessidade de alteração.

Talvez ficasse mais honesto que o texto do projeto do PL na Câmara apontasse que a redução só valerá para políticos da direita, propondo manter os oitos caso o político seja de esquerda, “já que eles são os verdadeiros corruptos, né?”.

Na verdade, no país do “existem o que concordam comigo e os que estão errados”,  as teses são meras marionetes nas mãos de cada lado, sendo usadas de acordo com os ventos ao benefício de um e do outro em tempos diferentes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia Mais

PSB inicia ciclo de renovação das direções com velho desafio…

Hervázio e Walber, a coragem de dizer não

Caso do ISEA: Veneziano, Pedro e Romero não vão prestar…

Sobre como Panta virou a Rainha da Inglaterra na Representação…

Diga o que quiser de Queiroga, mas não que ele…