Façamos uma longa, mas necessária reflexão sobre o resultado da eleição para presidência da OAB da Paraíba, a terceira mais importante disputa do planeta. Apesar da remota possibilidade de dar um empate, só um venceria. E deu Harrison Targino. Apertado, mas deu. O instrumento da reeleição provou, mais uma vez este ano, que é quase infalível.
Não tem muita novidade em falar sobre o processo da disputa. Somente que ele foi pautado pelo nível acusatório. Melhorias efetivas para categoria ficaram assim em segundo plano. Do resultado, sim, da pra falar. Mágoas pessoais foram o grande combustível dessa disputa, especialmente entre Paulo Maia, ex-presidente, e Harrison Targino, personagens de um rompimento recente.
Na verdade, afora isso, não foi muito claramente demonstrado por parte da oposição porque o atual presidente deveria deixar o cargo. Pessoas não compram gratuitamente a raiva ou a mágoa dos outros. Não é assim. É possível atingir esse nível de conexão. Mas precisa de outros fatores. Paulo entrou com (por?) raiva nesta disputa. Tinha razões para isso. Mas não conseguiu deixar claro qual seu propósito na mudança. A não ser fazer Harrison pagar pelo que fez (?). Creio que nem a tese da “traição” ficou clara. E só isso, como disse, na maioria das vezes, não é uma boa causa.
Paulo fez uma boa gestão enquanto presidente. Harrison precisa admitir isso. Foi eleito por causa dela da primeira vez. Não tem como rejeitar. Fez movimentos para isolar Maia já no início da gestão. Mas isso só não foi suficiente por parte da oposição para se justificar a mudança.
A eleição da OAB ensina que é preciso encontrar um gancho que vá além de si mesmo, que gere identidade, conexão com os eleitores. Paulo até conseguiu mais votos do que o cenário poderia prever. Mas não para fazer de Harrison algoz da maioria, quando podia provar apenas que ele foi algoz contra quem disputava o mesmo cargo.
Além disso, é preciso destacar que a eleição da OAB da Paraíba mostrou uma classe dividida, alimentanda por ódios que extrapolam a luta de classe. Não me parece que fortalece a categoria, independentemente do resultado que pudesse dar. Advogados não são (ou não deveriam ser políticos). Claro que tem seus interesses pessoais, mas não brigam pela diretoria da OAB como quem nutre a sobrevivência de um partido político ou de uma carreira eletiva.
Teoricamente, brigam por uma advocacia mais forte. Mas se enfraquecem se confrontando como se fossem palestinos e israelenses. Seria importante que a partir desta eleição possam todos juntos fazer uma reflexão e rever o propósito de suas pretensões de classe. O Judiciário e a sociedade não parecem ter visto com bons olhos tudo o que isso que olhos viram.
Harrison Targino reeleito pode ter, portanto, se desejar, um nobre desafio: trabalhar para unir a classe ou, ao menos, reduzir as divergências. Algo que seria muito bom para quem ganhou. E para quem perdeu.