Polícias atrás de melhores salários não precisam de políticos atrás de mais votos

O deputado estadual, Sargento Neto (PL), saiu da reunião entre governo e categorias das polícias ontem à noite já se posicionando contrário, e atacando a proposta governista de reajuste salarial de 10% e a implantação dos subsídios. Antecipando-se à resposta da categoria, sem dar espaço nem para reflexão, já chamou para que o movimento pudesse ser mantido. Nem parece que está, efetivamente, atrás de melhores salários. E sim de mais votos.

Isso nos faz pensar sobre um problema que atrapalha as discussões sobre o tema: os interesses políticos individuais.

A luta das categorias das polícias na Paraíba por melhorias salariais é mais que justa. Isso não se discute. Fazer a transição daquilo que se paga em remuneração para incorporar todo o valor no salário base, que vale para fins de aposentadoria, deve ser um compromisso do Estado independendemente dos governos que se sucederão.

Mas também é preciso registrar que, mesmo que isso seja difícil de ouvir, não é possível apenas em um só mês, num passe de mágica, corrigir uma distorção de décadas. Todo mundo lembra das discussões do século passado sobre defasagem salarial dos policiais, e até que, em alguns governos, eles tiveram que pedir empréstimo para receber o salário. Agora, o atual governo sugeriu 10% de reajuste no salário base, além dos subsídios, algo acima da inflação, coisa que poucos estados puderam fazer.

Aí, é preciso bom senso das partes em negociação – policiais e governo – para que cada um, entendendo a razão do outro, chegue a um termo. É preciso que as categorias apresentem uma contra proposta viável, sabendo que o 100% de incorporação, inclusive sem perda dos descontos que incidem na folha, não será dado.

Sabendo que o resultado final do jeito que se quer é impossível, lideranças políticas dentro do movimento insistem na pauta máxima porque não querem que a discussão acabe. Ao contrário, insuflam as discussões para que elas não tenham fim e se arrastem, especialmente, até o outubro de 2026, quando vão querer que seus nomes nas urnas recebam todas as homenagens pela virulência com trataram o tema.

Da parte deles, estrategicamente, estão certos. Certo só para eles. Para as polícias, não ajudam no diálogo. E, para sociedade, aos estimularem que o acordo nunca chegue, deixam sempre a sensação no ar que haverá greve e paralisações.  Não seria mais justo, e inteligente, no entanto, que eles pudessem, a cada vitória obtida junto ao governo, comemorar e se vangloriar das conquistas, buscando o mesmo reconhecimento?

Não. Preferem alimentar uma guerra porque sem ela parecem perder o sentido da existência.

E a única coisa que está garantida é o mandato que vão renovar para continuar a receber os excelentes salários que os políticos recebem.

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