Se queria estimular a expectativa sobre sua biografia, o ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot, foi além. Gerou um pandemônio digno dos lançamentos de Harry Potter ou Dan Brown com as primeiras revelações de suas confissões. Uma delas, revelada ontem em entrevista, expôs um dos mais profundos do sentimentos humanos, o de fazer justiça com as próprias mãos.
No auge da discussão da Lava Jato, Janot confessou que foi armado em uma das sessões do STF para matar um ministro (Gilmar Mendes) e, se seguida, se suicidar. Alega que o ministro teria provocado sua filha. A notícia, claro, rapidamente se espalhou. E demonstra que a natureza do homem é uma só, estando ele abaixo de uma toga, de uma batina ou simplesmente sem camisa. Homem da lei, Janot confessou um desejo pessoal de matar. Algo que não ficou apenas no pensamento. Se materializou com a presença armada numa sessão em que o “plano de execução” estava previamente montado. Sendo refreado, como ele mesmo diz, pelo bom senso que o impediu. E se não o tivesse?
Em estado natural, o ser humano é o mesmo do tempo das cavernas. Suas convicções religiosas e/ou seu respeito ao Contrato Social, ambas construídas a partir de sua consciência, este morcego que entra imperceptível em nossos quartos todas as noites é que o molda diante da sociedade. Janot revelou, com coragem, uma laivo da natureza humana.
Ver uma filha sendo desrespeitada é algo muito difícil para um pai. Tenha ele um exacerbado senso da Justiça ou não. Por isso que Hobbes e Rosseau apostaram tanto na necessidade, cada qual ao seu modo, de um contrato social que fizesse o ser humano abrir mão de sua liberdade completa para, sob a proteção de algo mais controlador, evitasse, ou atenuasse, a barbárie que se tornariam as relações humanas.
O caso de Janot leva sim a uma reflexão a ser feita por todos, inclusive por julgadores. Há muito mais no coração do homem do que a lei pode abranger.
Uma coisa é certa. O livro será um sucesso de vendas. Até que porque as confissões não param por aí. Janot deixou claro que a obra cujo título “Nada menos que tudo” se assemelha a um depoimento de um delator. Entre o “tudo”, assédios de Aécio e Temer para que parassem investigações em troca do Ministério da Justiça.