Perguntaram ao cantor Mô Lima, filho do saudoso Pinto do Acordeon, como tem sido a experiência de ser vereador em João Pessoa. Ele disse: “To me sentindo um deputado federal”. O interlocutor quis saber o porquê. “Porque lá na Câmara só tem debate de Lula e Bolsonaro!”.
A cena representa bem o cenário na Câmara Municipal de João Pessoa. Com a presença de vereadores da direita e da esquerda, mais especificamente do PL e do PT, os temas nacionais acabam entrando na pauta do dia a dia e roubando a cena.
Porque a polarização está arraigada no dia a dia das pessoas. Na mesa do bar, no almoço de família, no cafezinho do trabalho, na fila do banco, na espera dos consultórios, dentro do ônibus. E os representantes de cada lado, sabendo disso, alimentam seus públicos com essas pautas.
Não por menos a Câmara de João Pessoa em poucos semanas esteve envolta em debates sobre votos de aplausos para Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, projeto de Anistia do 8 de janeiro, e outras coisas mais que nos remetem à Brasília.
Alguns vereadores, inclusive, já fizeram apelo da tribuna da Casa para que isso pudesse parar, entre eles, além de Mô Lima, João Almeida e Chico do Sindicato.
O presidente da Câmara, Dinho Dowsley, admitiu que esses debates tomam conta da pauta. E reconheceu que é difícil vetá-los por completo.
É claro que os vereadores tem outros temas, votam outros projetos e discutem coisas relacionadas à cidade. Mas todas as vezes que o tema da polarização vai para vitrine acaba chamando mais atenção do que os demais e reduz a capacidade de atuação do Poder Legislativo.
Ao ignorá-los por completo, os vereadores poderiam ter espaço e vitrine para aparecer com outros temas de maior importância para a capital, tão cheia de desafios em diversas áreas.
Mas a Câmara insiste em parecer um “congressinho”, apequenando-se diante dos grandes probemas de João Pessoa.
