A primeira coisa que essa bomba detonou foi o projeto de anistia dos envolvidos no 8 de janeiro. Assim que o barulho dela se ouviu, este foi o primeiro pensamento que me veio a mente.
O ato tresloucado de um cidadão brasileiro, sempre inspirado por uma missão nacional de destruir aqueles que estão no caminho do bem (sic), é uma reprodução pitoresca, e extremamente perigosa, do que se viu no país nos últimos anos, especialmente em 2022. E desanima uma discussão sobre “perdoar coitadinhos” que queriam matar ministros e tirar um presidente eleito da cadeira.
Depois de cumprir um roteiro golpista por quase quatro anos, culminando naquele horrendo 8 de janeiro, eleitores bolsonaristas e anti esquerda pedem anistia para o crime que cometeram. Mas não prometem cura para os pensamentos que alimentam.
A anistia não pode servir como salvo conduto para a escalada do ódio e da violência.
Se passasse, deveria servir de lição pedagógica de um país maduro que respeita a democracia e tem piedade daqueles compatriotas que, por alguma fraqueza antidemocrática, se envolveram e/ou deixaram se envolver com aqueles atos.
Mas o que se vê é um adoecimento mental da população. Ainda convivemos com rompimentos familiares por causa das últimas eleições presidenciais. Pessoas odeiam um partido ou político como se tivessem sofrido deles um mal diretamente pessoal. Você pode discordar, questionar, repudiar a postura de um ou outro político, partido ou ideologia. Mas daí a querer matá-lo tem uma distância legal e moral enorme.
Precisamos parar pra discutir isso. A classe política, os líderes dos dois lados, todos nós precisamos puxar uma espécie de acordo, senão de paz, mas de limites de disputas.
Sei que é ingênuo pensar e esperar isso num país que produz extremistas de esquerda e de direita todo dia. Sei que a “bomba da paz” não faz muito barulho. Mas sei também que há algo de muito errado todas as vezes que uma bomba explode ou alguém morre por causa de uma guerra política.