Um novo nome ou uma cidade melhor: qual você prefere?

Há mesmo necessidade de mudar o nome de João Pessoa? Este é o tema vai e vém mais famoso da capital paraibana. E, mesmo com tantas idas e vindas, continuo a considerar que não há necessidade de alteração. Não vejo benefício algum. Tanto que a principal justificativa para a mudança é “corrigir um erro”, visto que a homenagem ao ex-governador João Pessoa, assassinado em meio a um cenário de ebulição política no Brasil, não teria mais razão de ser.

Até concordo com a tese, mas considero-a extemporânea. Ou seja, fora de tempo, atrasada em pelo menos umas oito décadas. Sim. Por que até caberia um debate sobre a alteração do nome, retorno ao nome anterior, alguns poucos anos depois da alteração para João Pessoa, passada a comoção criada quando do assassinato. Porque aí teria se “corrigido” em tempo o excesso de uma comoção. Mas depois de tanto tempo, já não encontro mais sentido.  Visto que a cidade ficou bem maior que o homenageado. E, portanto, “roubou-lhe” o nome.

Digite “João Pessoa” no Google e veja o que aparece.

Quando falamos “João Pessoa” não trazemos à memória o político. Trazemos nossa cidade, trazemos outras imagens. Tudo menos 1930. Trazemos a praia do Cabo Branco, a ponta do Seixas, o ponto mais oriental das Américas, o Hotel Tambaú, a Lagoa, o Ponto de Cem Réis, a Bica, Mangabeira, Farol do Cabo Branco, até o cachorro quente da Mundial. Trazemos Areia Vermelha e o por do Sol do Jacaré, que nem são de João Pessoa. Trazemos os conceitos de cidade verde, de ser “portal do sol”, menos o nome indicado para ser o vice-presidente de Getúlio Vargas.

E falo isso até no caso das velhas gerações. O nome de João Pessoa como nossa Capital já está tão encaixado que é muito mais provável que se imagine que o ex-governador recebeu este nome porque nasceu em João Pessoa. E não o contrário.

Porque o nome se incorporou a cidade. Não pertence mais a um ser humano. E isso acontece com tudo. Não nos vem à cabeça o Natal quando falamos de Natal no Rio Grande do Norte. É mais provável que Gramado, no Rio Grande do Sul, famosa pelo Natal Luz, apresente essa referência bem mais nítida. Nem lembramos de uma fortaleza quando falamos da capital do Ceará. Nem muito menos de Jesus quando dizemos que passamos o Carnaval em Salvador. Os nomes viram a cidade e a cidade viram os nomes. É óbvio que nome de político “atrapalha” mais. Porém eles também passam por essa conversão.

Por exemplo, pra ficar aqui em João Pessoa mesmo, ninguém traz a memória o presidente Epitácio Pessoa ao mencionar a Avenida Epitácio Pessoa, a principal da cidade. Não! É a Epitácio Pessoa e pronto. É a nossa maior avenida. É a que liga o centro a praia, é que a tem mais lojas e empreendimento, manifestações, lugar de eventos. O ex-presidente é outra coisa. Ele é tudo menos a Epitácio Pessoa.

Vejo o mesmo em João Pessoa.

Se não ajuda, portanto, atrapalha. Trocar o nome seria colocar por terra décadas de esforço para que nossa capital seja conhecida nacionalmente. Passamos décadas escutando as pessoas dizerem “João Pessoa, onde fica?”. Hoje, por mais avanços que ainda precisemos, vemos um cenário diferente onde os brasileiros sabem sim onde fica João Pessoa e, mais do que isso, estão correndo doidos para morar por aqui.

Atingimos outros status no turismo, mesmo que ainda tenhamos muito a avançar (malha aérea, hotéis), mas já temos um admirável pólo gastronômico e espaços para receber shows de roteiro nacional e internacional. Somos João Pessoa por sermos este paraíso na pontinha do Brasil. Não por causa de ninguém.

E precisamos sim de mudanças. Mas da qualidade da mobilidade urbana, dos bairros periféricos, de valorização dos espaços históricos, de salvar a Barreira do Cabo Branco, de aprimorar nossa rede de saúde.

Não do nome.

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