Antes do prato principal, duas entradas.
Primeira. Tenho completa consciência da gravidade do Coronavírus, uma doença astuciosa
que, debochando da ciência, se alastra facilmente e mata, lamentavelmente, aqueles que escolhe matar.
Segunda. Sou absolutamente a favor do funcionamento de praticamente todos os setores das atividades econômicas, especialmente bares e restaurantes mesmo em meio à pandemia.
Defendo a tese de que é preciso conviver com o vírus, adotando medidas rigorosas de proteção, e medidas ainda mais rigorosas de COBRANÇA dessa proteção.
Dito isto, portanto, avancemos no cardápio.
O que esperar de um país ou de uma sociedade que mantém a proibição COMPLETA do funcionamento PARCIAL do ensino presencial nas escolas e faculdades?
Destaco bem as palavras COMPLETA e PARCIAL para enfatizar o paradoxo. Para a educação, a vedação imposta sob a justificativa do Coronavírus é completa. Ou seja, estão proibidos quaisquer tipos de aulas presenciais. Nem mesmo o modelo parcial, híbrido, cujo formato oferece a opção para o aluno em manter-se online caso queira.
O que se está em discussão não é a imposição exclusiva de aulas presenciais. Mas a POSSIBILIDADE de OFERTÁ-LAS. Uma OPÇÃO. Assim como as mesas de bar.
Liberadas, as mesas de bar não são uma obrigação.
Nenhum decreto trouxe a imposição legal:
Todo cidadão será obrigado a sair de casa sexta à noite, sentar numa mesa de bar, sozinho ou outrem, e consumir até o valor mínimo de tantos reais.
Não! A liberação foi para que funcionem aos que desejam desfrutá-la. E que funcionem com os devidos cuidados. Que já nem são tão devidos assim.
E por que a educação é tratada tão diferenciadamente?
Num bar ou restaurante há mesas e cadeiras.
Nas salas de aula também.
Num bar ou restaurante pessoas são dispostas no mesmo ambiente, com dificuldade de distanciamento, respondendo e fazendo perguntas umas as outras, incluindo
os garçons.
Nas salas de aula, à exceção do garçom, também.
Num bar ou restaurante pessoas ficam em média quatro horas
ou mais.
Nas salas de aula também.
Qual a diferença?
Encontro uma na lata. Nos bares e restaurantes, ninguém precisa, e nem deve usar máscara. Como é que se come e se bebe com elas?
Nas salas de aula, máscara neles.
Que cultura é esta que nos permite encher, então, os bares e restaurantes e esvaziar as salas de aula?
Percebam o quão nociva é a mensagem que estamos passando, indireta ou diretamente, aos nossos jovens. Na vida, diante das dificuldades, corte o que é menos essencial e foque nas prioridades.
Ou seja, drible a educação. O que vale mesmo é todo o resto.
Que epicurismo exarcebado!
E, para você (até da minha família) que está dizendo eu mesmo não vou mandar filho meu para escola agora, tenho apenas uma algumas perguntinhas?
O que teus filhos estão fazendo na sexta, sábado e domingo?
Estão realmente longe de bares, restaurantes, encontros sociais com
pessoas de pouca convivência, de festas sociais, de parquinhos?
Passam todos os dias dentro de casa, lavando as mãos, passando álcool em gel a cada uma hora de uso do celular, usando máscaras para pegar os pedidos do Ifood?
Se estiverem, ok. Você pode me xingar.
Se não, por favor, evite exposições hipócritas.
Sim, vale o mesmo para você que pulou da cadeira para defender a exposição ao risco de professores e funcionários da escola. Você tem a mesma disposição para defender os garçons e atendentes de bar?
Percebam que não estou aqui a condenar o funcionamento dos setores de entretenimento.
Não há crime algum ir, em meio à pandemia, aos restaurantes ou bares.
Sou um defensor guloso do segmento.
O que me faz perder o apetite é não conseguir entender a educação ser tratada como serviço praticamente dispensável. Daqueles que você vai empurrando para frente até que mais de cinco bilhões de terráqueos sejam vacinados.
Ou será que vai ser preciso servimos drinks nas salas de aula para que elas fiquem
mais atraentes?