A armadilha se voltou contra o caçador. Surpreendido com a narrativa de que o depoimento do porteiro de seu condomínio apontando que o um dos envolvidos na morte da vereadora Marielle teria ido a sua casa após o assassinato, o presidente Jair Bolsonaro rugiu feito um leão saudita e pediu que seu ministro Sérgio Moro tirasse a história a limpo.
Eficiente, Moro, como dissemos, pôs rapidamente no encalço dessa “estranha” história. E o retorno foi devastador. Para quem acusou ou insinuou, claro. De pronto, o próprio Ministério Público do Rio de Janeiro declarou que o porteiro havia mentido no depoimento, e que não havia indício ou investigação alguma neste sentido. Jair saiu do papel de caça para caçador. Reforçou as baterias contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.
De fato, agora, é preciso saber quem colocou aquele jabuti na árvore, ou melhor, na portaria. Agora, quem precisa de esclarecimentos e respostas é o próprio presidente Jair Bolsonaro, que virou o jogo rapidamente. E expôs um desejo não escondido do governador do Rio de Janeiro em ser candidato a presidente da República nas eleições de 2022. Desejo semelhante ao que inspira o governador de São Paulo, João Dória, o do Maranhão, Flávio Dino, além de figuras como Ciro Gomes e outros.
Uma antecipação que inevitável na luta pelo poder mas que, efetivamente, não ajuda o Brasil a se reencontrar. Mas pode ajudar Bolsonaro. Porque ele cresce quando é atacado pela oposição. Aliás, foi assim que se tornou presidente da República. Atacado diretamente pelos petistas, virou o Mito do “outro lado”. Cresceu, cresceu e virou presidente.
Se virar vítima, especialmente por motivações eleitorais, toda vez que for atacado, reagindo com seu estilo de sempre, vai recuperar rapidinho uma popularidade que anda “subjudice”. Porque Bolsonaro só cai na avaliação quando ele próprio se enrola nas suas armadilhas verbais. Quando ele mesmo é seu próprio adversário. Nas armadilhas dos outros, ele não cai.