O purgatório das verbas indenizatórias: melhor não usá-las, mas se não usá-las como gozá-las

O velho Vinícius de Moraes tinha uma frase bem mundana sobre a questão de ter filhos que resume bem o sentimento racional a respeito do tema da paternidade. Ele dizia “Filhos, melhor não tê-los. Mas, se não tê-los, como sabê-los?”.

É sob esse impulso que deputados federais e senadores se jogam sobre as Verbas Indenizatórias garantidas por lei pelo Congresso Nacional para que parlamentares, no exercício de seus mandatos, peçam aos cofres públicos reembolso de tudo aquilo que gastarem, respeitando o teto estabelecido para cada um.

Eles querem “sabe-las”, ou seja, desfrutá-las, mesmo ficando expostos, em razão da obrigatoriedade da transparência nos gastos, ao ridículo e à execração pública. Padecem no paraíso. Por não conseguirem abrir mão da verba extra a que tem direito.

A rigor, se pudessem, os parlamentares colocariam tais os valores dentro da própria remuneração. Assim, gastariam com o que quisessem sem precisar de dar satisfações a todo tempo. Mas a verba indenizatória já surgiu pela necessidade de evitar o escândalo do reajuste salarial desmedido.

Os parlamentares só não contavam com a transparência absoluta. Algo que os expõem quase que intimamente. Do sorvete à Coca-Cola, do café à tapioca, nada passa desapercebido. E o resultado é uma mancha considerável no mandato, mesmo se tratando de “besteiras”. Aliás, é exatamente por causa disso que elas tem tanto impacto negativo.

O povo, já enviesado com a atividade política, não aguenta ver um Senador da República ou um deputado federal tomar uma garrafa de água mineral e pedir que o Congresso Nacional, quero dizer, a população, pague por isso.

Já considera muito ter que bancar toda a estrutura por lá. Por bancar Brasília funcionar com estruturas das casas legislativas, apartamentos funcionais, deslocamentos. E ainda tem que ver o escárnio de bancar as firulas de cada um daqueles que o obrigou a sair de casa num domingo para votar.

Por causa disso que a exposição detalhada de cada item dos mais de R$ 80 mil que os senadores paraibanos pediram este ano em reembolso ao Senado Federal gerou tanto barulho.

Dessa forma, deputados e senadores criam para si uma tentação, um pecado, que vem com o castigo já no pacote.
Mandatos excelentes, produtivos, podem ser arranhados por causa de uma coxinha de frango. Imagine os mandatos medíocres, de baixo impacto social.

Não é preciso ser muito inteligente para perceber que as verbas indenizatórias são, na verdade, verdadeiras armadilhas. Que levam o usuário contumaz direto ao purgatório.

Sem garantias de reembolso da credibilidade por parte do cidadão.

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