Até a carta assinada pelo governador João Azevedo, e mais 18 lideranças socialistas, e endereçada ao presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, a novela do possível racha dentro do partido não havia produzido nenhum documento oficial pelas partes envolvidas. Até então, diante da queda de Edvaldo Rosas da cadeira de presidente da legenda na Paraíba, somente fofoca, declarações atravessadas, e muita ciência do achismo.
A carta desta segunda, 9, no entanto, encerra os palpites e se apresenta como uma versão oficial. Se faltava um prefácio para o rompimento, ela preencheu o espaço. Tanto pelo conteúdo quanto pelo timing. Especialmente, pelo segundo.
Porque é preciso levar em conta de que ela foi redigida, enviada e reafirmada no mesmo dia em que o ex-governador Ricardo Coutinho viajou para Brasília em missão de paz. Onde, diante da Direção Nacional do PSB, construiu a composição de uma Comissão Provisória em que ele assumiria a presidência e João a vice-presidência, dando, teoricamente, fim a querela. Não serviu sequer como placebo. Nem efeito psicológico parece ter gerado. A carta
encabeçada por João continuou tendo validade após da decisão da Direção Nacional. Aliás, parece ter ficado mais atual ainda.
Ou seja, se quisesse colocar um ponto final nesta história (até que inventassem ou aparecesse outra), o governador João, e seus socialistas mais próximos, teriam esfriado o tema e deixado a Comissão Provisória ser montada do jeito que veio de Brasília. Diga- se de passagem, eclética, contemplando forças diferentes dentro da legenda, a exemplo de Ricardo, João, Veneziano, Márcia Lucena, Fabio Maia, Valquíria de Sousa e o próprio Edvaldo.
Mas a decisão de lá foi ignorada aqui. Numa reafirmação que apontava para decisão fechada de não participar da comissão provisória. E sob palavras de ordem “RETROCESSO JAMAIS”.
Do timing ao conteúdo, as coisas somente se complicam. Quem lê a carta vê claramente o esforço de mostrar que todo o movimento do governo João foi feito em favor do ex-governador Ricardo Coutinho, desde a abnegação para que ele assumisse a legenda e os destinos das decisões políticas com vistas às eleições do próximo ano, quanto na execução do projeto de Governo, onde “90% dos membros” da gestão anterior.
Arrematando com um “por causa de tudo isso, não aceitamos”. Traduzindo do politiques para o português, significa dizer que o período do silêncio terminou. Que nenhum gesto, palavra ou atitude ficará sem resposta ou justificativa. E quando uma relação chega neste nível, dos dois lados, inclusive, é difícil manter os cabos
conectados. Até porque, quase sempre, a quantidade de incendiários, com interesses diversos, é sempre maior que a de bombeiros.
Por isso, que algumas lideranças políticas do PSB, já estão dizendo que o final do livro, cujo prefácio foi esta carta, é o rompimento definitivo, e já apontam novas legendas para o governador em exercício.
Depois disto, será que existe algum leitor capaz de imaginar que vai ler no primeiro capítulo, a palavra “desculpa” de um dos dois lados em debate? Até um aficionado pelas obras de Pollyana Moça terá dificuldades de vislumbrar um final mais otimista.
O desfecho pode surpreender, especialmente em política. Mas ninguém poderá negar que a história tem mais roteiro de filme de guerra. E quase nada de canção de amor.