Mesmo que você concorde ou discorde com tudo o que o governador Wilson Witzel tem dito sobre o caso do assassinato da menina Ághata, no Rio de Janeiro, tem uma coisa da qual ele não pode fugir. A reação negativa da sociedade – inspirada pela comoção em razão de vermos uma menina inocente morrer com apenas oito anos vítima de tiros dados pela Polícia – é fruto do discurso de “dar porrada” que tomou conta do Brasil a partir da eleições de 2018. Um discurso “Maçaranduba”, personagem do extinto Casseta e Planeta, que saia às ruas distribuindo “porrada” pelo simples prazer de mostrar força e bater em alguém.
Óbvio que é rasteiro dizer que Witzel “matou Ághata”. Exageros à parte, não se trata disso. E também não adianta reclamar do tráfico nas redes sociais e comprar maconha nas bocas. Nem cobrar segurança e dizer que não aguentam mais tanta impunidade, mas reclamar quando é pego num blitz, numa batida policial, numa inspeção dentro do ônibus.
Igualmente, também não da para imaginar que o policial, em pleno combate à criminalidade, vá ficar refém de punições criminais severas. É um contrassenso.
Mas estimular a tese “primeiro atira e depois pergunta” deixa a sociedade pronta para fazer julgamento rasos em caso de tragédias como esta. O governador do Rio, a exemplo de Bolsonaro, foi eleito numa campanha cuja a natureza “marrenta” predominava na questão do combate à criminalidade.
O Governo Federal, inclusive, se vangloria de ser o único e principal responsável pela redução nos índices de criminalidade no Brasil, mesmo que não consiga provar que liberou um centavo sequer ou implantou, efetivamente, qualquer programa de combate ao crime. Traz para si os bons resultados em razão simplesmente da postura. Semelhante ao que Witzel faz no Rio. Então, se é para ficar com os bônus, é preciso arcar com o ônus também.
Ora, o governador do Rio tem um arsenal de frases de efeito de incitação ao confronto direto, o presidente vive com uma metralhadora imaginária nas mãos.
É normal que quando há uma falha e uma tragédia o roteiro de faroeste se vire contra eles.
Muito parecido com o caso da Amazônia. Queimadas existem há décadas, em todos os governos, inclusive no do PT. Mas por que somente Bolsonaro virou o incendiário? Exatamente porque todos os seus gestos e palavras foram no sentido de ridicularizar o tema e esvaziar os órgãos ambientais.
Idem para a segurança. Se a política de enfrentamento fosse mais verba e menos verbo talvez o debate pudesse ser encarado de uma maneira menos acusatória contra os governantes pitboys.
Essa postura só passaria bem se não acontecesse nada fora da linha, nenhum erro humano, por mais acidental que seja. Mas, infelizmente, não estamos no Céu. Onde a pequena Ághata, certamente, está agora.