No Brasil, a razão anda descalça

A mais nova polêmica, você já sabe, é a das Havaianas. Aliás, nova polêmica, não ! A mais nova bandeira. Sim, porque eis mais uma nobre causa a que se lutar no Brasil adoecido de hoje. Atacar a empresa por causa de uma propaganda que começou batendo no velho e já conhecido “pé direito”. Fogueira de sandálias! Cheiro de borracha no ar! Queimem tudo. Quiçá, conseguiremos o fechamento das Havaianas, no Brasil, claro. Grande causa. Nobre motivo. Tudo a ver com o dia a dia do brasileiro, né?

Tudo a ver com os anseios econômicos e sociais de um país que luta para se inserir no mercado econômico global, gerar oportunidades para os seus, garantir segurança paras as famílias, reduzir desigualdades sociais, e por aí, vai. Mas, claro, essas bandeiras são muito chatas. Foquemos todas as nossas energias em combater as Havaianas. Ora, há alguns dias estávamos todos focados no grande discurso de Zezé Di Camargo contra o SBT e uma suposta aliança com Lula por causa da presença do presidente num evento da emissora. Aliás, outra grande causa, né ? Lutar contra a presença do atual presidente da República nos eventos de televisões brasileiros.

No caso das Havaianas, fico imaginando o comprador de uma casa reclamando do engenheiro que não gostou do “pé direito”. Crise na construção. Viramos um país onde a racionalidade fugiu a pé. E descalça, gritando como uma louca. Não falo nem na loucura de escolher um lado e ficar completamente cego por ele. Que já é uma pena. Falo de demarcar posição a partir de símbolos e não de temas.

Perceba, o confronto não é mais se você é contra ou a favor da descriminalização do aborto, legalização das drogas, programas assistenciais, flexibilização do armamento, redução da carga tributária, direitos trabalhistas, preço do combustível, abuso dos planos de saúde, PSFs 24 horas…É se você usa Havaianas !! Dá para voltarmos a debater estes temas e, a partir deles, descobrir se somos de direita ou de esquerda. Estamos nos medindo por símbolos.

Se um cara estiver de Grandene, dentro da Loja da Havan, vestido com a camisa da seleção brasileira num dia que não tem jogo, e ouvindo no fone É o Amor na voz de Zezé Di Camargo,  teremos um direitista raiz, lutando contra as Havaianas, a transmissão dos filmes de Fernanda Torres e defendendo o fim da herança das filhas de Silvio Santos.

Gente, sério, essas são bandeiras reais? No máximo, para não dizer que não falei das flores, vale uma defesa de redução da pena para condenados por golpe, pois, claro, também existem pautas intelectualizadas, não é mesmo?.  Sinceramente, e aqui não tem ironia, estamos perdidos. E alimentando nossa insanidade todos os dias, enquanto eles lá de cima – sim, os políticos de direita e de esquerda – se alternam no poder, com privilégio de usar pantufas caríssimas quando vão dormir, com os dois os pés na nossa cara.

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