Nem qualidade, nem preço: o que importa é se a marca é Lula ou Bolsonaro

Esqueça tudo o que você aprendeu sobre marketing. Nesta paranóia em que nos encontramos, os tais quatro P (s) já não valem mais nada. Qualidade do produto, preço, pontos de distribuição e publicidade não determinam mais o sucesso de suas vendas. Agora, é o P da política que manda. Um “P” pelo qual empresas e consumidores definem seus clientes e suas compras de acordo com as preferências políticas de cada um.

O caso é tão sério que já tem lista circulando nos whatzaps entre consumidores apontando quais são as marcas cujos empresários são bolsonaristas. E, no sentido inverso, lista com as marcas cujos donos votaram em Lula. Um alerta em “defesa do consumidor”.

Tem empresa que só quer vender para quem vota em Bolsonaro e empresa que só quer vender para quem é de Lula. Que o diga o tal Véi da Havan, Luciano Hang, que se mostrou tão anti petista que em suas dezenas de lojas espalhadas por todo o Brasil não havia o guichê de número 13. Do outro lado do balcão, paranóia idêntica. Clientes que não compram em “empresas bolsonaristas” e os que não entram nas “empresas comunistas” (sic).

Ou seja, a tese de que meu produto é melhor do que o seu porque tem qualidade e menor preço já não vale mais. O que importa é em qual a cor da bandeira que o restaurante, supermercado, farmácia, bar, escola, posto de gasolina, loja de roupa entre outros, exibiram durante a campanha e continuam a ostentar.

Fico imaginando os Procons recebendo denúncias porque uma empresa lulista quis vender a um bolsonarista ou vice versa. Estamos numa loucura e achamos tudo isso normal, o que é pior.

O fato é que o “marketing” da eleição se espalhou pelo Brasil e este apartheid comercial rendeu cenas hilariantes, mas também lamentáveis. O caso das pizzarias em João Pessoa foi emblemático. A Autentica Pizza fez piada com os manifestantes e chegou a entregar “Pizza Impressa” em frente ao Grupamento de Engenharia. Claramente havia escolhido que clientela gostaria que pagasse pela sua pizza. Concorrentes vestiram verde e amarelo e foram faturar entre os bolsonaristas, como a Pizzaria Veneza.

Mas o que leva empresários a colocar em risco o faturamento de suas empresas em nome das paixões e diferenças políticas? A resposta não é fácil.

Ora, seu eu vendo panela, daquelas que se batem na varanda em protesto, não seria melhor que pudesse vender para todo o país no lugar de apenas metade dele? E, vendendo a todos, cada qual que fizesse com a panela o uso que desejasse, seja contra ou a favor de Lula ou de Bolsonaro.

Nem nas maiores guerras havia essa seleção. Multinacionais faturaram muito com a guerra mesmo vendendo armamento para países que atacavam suas nações de origem. Ou seja, o ímpeto comercial se sobrepunha até à defesa dos próprios interesses do país onde a empresa tinha sua sede.

A lógica, agora, é totalmente inversa. O produto pode ser ruim, mas se for vendido por uma empresa que votou e defendeu meu candidato, poderá contar com minha adesão. Qualidade, preço, atendimento e outras coisas já não tem tanto valor. Afinal de contas, o que vale mesmo é comungarmos juntos nossas loucuras, mesmo que seja em prejuízos de nós mesmos.

Leia Mais

PT da Paraíba não está na lista de convidados para…

Mil dólares para quem achar pediatra paraibano foragido

Entre a raiva e o pragmatismo, Cartaxo prefere o curso…

O dia que João fez barba e cabelo deixando aliados…

Galdino supera susto e resolve tirar as amígdalas que engasgavam…