Não há nada mais segregador no Brasil de hoje do que a tese do “tudo aberto menos as escolas públicas”

Tudo pode abrir menos as escolas públicas? É assim que, há algum tempo, começo qualquer debate sobre a necessidade do retorno às aulas presenciais no Brasil. Tema que virou pauta de pronunciamento em rede nacional do Ministro da Educação, Milton Ribeiro, nesta terça, 20.

Tudo pode abrir menos as escolas públicas? Bares, restaurantes, academias, shoppings, lojas, igrejas, praias, praças, festas com 30%, estádios de futebol e até escolas privadas podem e devem ser abertas. Escolas públicas, não?

Isso é um processo de segregação tão violento que eu fico a imaginar as facilidades que Hitler teve de enganar as massas naquele horrendo tempo do Terceiro Reich.

Começo o debate assim porque quem é contra o retorno das aulas presenciais nas ESCOLAS PÚBLICAS sempre fala que não há como voltar pelo perigo de contágio do Coronavírus, que não há segurança, coisa e tal, mas não tem o mesmo zelo ao falar de todos os outros lugares que freqüenta e usufrui.

Nestes lugares, devidamente freqüentados por aqueles que dizem não ao retorno às aulas, não há risco de Coronavírus? São 100% seguros? Em sendo, por que as escolas também não podem ser?

O rebatedor vai dizer que não estados e prefeituras não estão preparadas para isso. Mas como é que podemos saber se ninguém quer voltar? Como podemos cobrar algo que não acontece?

É certo sim que alguns prefeitos e governadores evitam o retorno porque não querem ter dor de cabeça e, sendo assim, é mais fácil empurrar com a barriga, comprometendo o desenvolvimento de quem, em tempos normais, já é comprometido em questões de qualidade de ensino.

Mas se todos quisessem o retorno, eles seriam todos forçados a deixar de se esconderem atrás de suas responsabilidades, trocando a comodidade do fingimento de que estão todos ensinando e todos aprendendo.

O problema é que gestores encontram eco em categorias de profissionais da educação.

Sem hipocrisias, vamos ser claros a dizer que quem está recebendo regularmente seus salários – sem temer fechamento já que escolas públicas não falem (?) e, em função da estabilidade, não demitem efetivos – vai colocar todo tipo de justificativa para não retornar. E gestores, para evitar esforços, idem. Uma combinação indolente que gera um dos maiores absurdos desta pandemia.

No começo, era a falta de vacina. Agora, são as variantes. Amanhã será o tempo de eficácia das vacinas. Depois, isso ou aquilo. Absurdo!

Enquanto isso, crianças e adolescentes do ensino público estão completamente alijados de qualquer processo de retorno a um cenário que os coloque, no mínimo, numa posição de possibilidade de competirem com alunos da rede particular, oriundos de famílias com melhor poder aquisitivo.

Não é importante pensar neles? Deveria ser uma defesa feita por todos.

Não há prejuízo para o ensino?

Uma, entre tantas outras, pesquisa do Datafolha, contratada pelo BID, Itaú Social e Fundação Lemon, aponto que mais da metade dos alunos entrevistados demonstraram déficit no ensino.

Onde estão as pessoas que em 2018 reclamavam da proposta de implantar e incentivar o homeschooling no Brasil? Não se dizia que seria um golpe no aprendizado, no desenvolvimento das relações humanas e sociais? Sumiu todo mundo.

Agora, a melhor coisa do mundo é criança e adolescente fora da escola, sem internet boa, ou sem aparelho para assistir às aulas?

Tudo isso porque gestores, com medos de suas responsabilidades, e alguns profissionais, sem querer voltar ao trabalho presencial, estão lutando contra o retorno?

Já vi gente dizendo que os segmentos comerciais e econômicos devem voltar porque geram emprego e renda e, por isso, não podem parar, e que as escolas, não. Ora, as escolas também são segmentos que modulam a economia, mesmo que em médio e longo prazo. Individual para quem estuda. E coletiva para uma nação.

Um país que abandona “parte” de seus filhos a uma péssima educação ou à falta dela, como é o caso, está naturalmente comprometendo sua economia capitalista no futuro, por não criar um mercado consumidor de poder aquisitivo satisfatório, nem mão de obra qualificada, além de contribuir para a manutenção da rara classe dominante sobre a imensa classe dominada.

Isso é um absurdo!

Pensemos nisso. E lutemos juntos para um retorno responsável das aulas presenciais. Em nome de quem tem direito a mudar de vida neste país!

Os gestores públicos têm que assumir suas responsabilidades. Sempre fizeram campanha para matricular gente nas escolas. Agora, não querem abri-las?

E quanto aos professores, desculpem-me, mas fui acostumado com o aluno inventando desculpa para não ir à escola. Professor, não.

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