Manifestações sem aval: Bolsonaro seria melhor do que o exército que criou?

O Brasil vive, neste período pós segundo turno das eleições, um dos momentos mais inusitados da sua história. É inusitado, para não dizer patético, ver pessoas nas rodovias bloqueando estradas após a vitória de Lula e a derrota de Bolsonaro sem o apoio do próprio líder, que já jogou oficialmente a toalha.

É inusitado ver o próprio presidente repreendendo o coro dos inconformados, vez que se apostava todas as fichas que ele seria o primeiro a estimulá-los. Mas, apesar do incomum silêncio de dois dias, ele mesmo veio a público por duas vezes para desautorizar os bloqueios nas estradas, afastando sinais de desrespeito ao resultado.

Os manifestantes pró Bolsonaro protestam, portanto, sem que ele, o “mito”, os elogie. Ao contrário, preocupado com o aprofundamento de ações contra si mesmo por atos antidemocráticos e ainda com arranhões na carroceria da economia que está em curso, e que ele pretende ostentar como troféu quando deixar o governo, Bolsonaro corre para dizer aos inconformados que parem.

O problema é que até agora as criaturas não parecem dar sinais que estão querendo ouvir o criador. Eles aumentam o som do Hino Nacional e continuam gritando ao vento.

E Bolsonaro, agora, com os dias contados na presidência, não tem mais controle sobre o exército que criou. Grita pedindo retirada como um general que não é ouvido no campo de batalha devido ao barulho das metralhadoras. E isso acontece porque quando estava sendo ouvido incitou o ódio dos seus contra as instituições, contra as urnas eletrônicas, e, especialmente, contra Lula, a quem sempre considerou um monstro e não apenas um adversário político a ser vencido.

Agora é refém da própria criatura que criou. E, embora queira se afastar dos frutos, é responsável pela gênese desse movimento.

A massa de radicais que Bolsonaro ajudou a alimentar desde 2018 não aceitou perder. E já não precisa mais do mito a dizer o que deve fazer. Faz isso sozinha porque, oficialmente, ninguém ligado a Bolsonaro – seja um partido político ou o Padre Kelmon – entrou com ação para contestar. Não aceita, portanto, porque o candidato deles não ganhou. Imagine que se isso virar regrar nunca mais time algum do país vai ser campeão.

Protestam contra alguma atitude tomada por Lula? Não. Lula não está no governo (ainda). Não há um decreto, lei ou Medida Provisória adotada por ele. Não pode ser acusado, neste momento, de inflação, fome ou mau atendimento no SUS. Não está no poder (ainda).

Então, estão nas ruas porque querem um golpe no país com a tomada do poder – e dos poderes – pelas Forças Armadas. E fazem isso em frente a quartéis que estão respondendo com silêncio sepulcral. E que, em pouco tempo, incomodados com o barulho dos barulhentos, vão pedir para que os protestos sejam feitos em outros locais, vez que os soldados precisam dormir.

Para além disso, pedir golpe militar não seria um atentado à Constituição? E, em sendo, deveria ser tratado como tal, e não como apenas um protesto de eleitores inconformados.

O fato é que as instituições no Brasil deram o sinal oficial de que Bolsonaro sai e Lula entra. Com direito a ter o próprio Bolsonaro encarando a realidade. Qualquer coisa fora disso é delírio. E, pela primeira vez, inusitadamente, delírio sem o aval oficial do seu principal causador.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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