Nunca trabalhei com ela. E, mesmo assim, com ela, muito aprendi.
Há 19 anos, quando comecei, Lena Guimarães já era um símbolo consagrado do jornalismo paraibano. Era a “dama de ferro” do Sistema Correio da Paraíba. Editora Chefe do Jornal Correio, numa época em que o poder do jornalismo estava nos impressos.
Conduzia a redação sob seu completo domínio e autoridade. Isso numa época em que as direções das redações, os cargos de direção dos veículos estavam majoritariamente nas mãos de homens. Lena conduzia o jornal sem estar aquém da capacidade de marmanjo algum.
Poucas pessoas sabem disso, mas Lena representa para mim o meu primeiro “não” na vida profissional. Eu ainda estava terminando o curso e fui fazer um teste para estágio lá no Jornal Correio 20 anos atrás.
Eu me lembro que eu tinha vergonha até de entrevistar as pessoas com a redação toda ouvindo.
Passe dois dias na redação, e ao final, Lena, a editora, disse que não.
Eu poderia ter ficado muito frustrado com aquele não naquela época. Mas não fiquei. Ao contrário, radiante. Sabe por quê? Porque em dois dias trabalhando na redação de Lena eu descobri exatamente o que os jornais queriam de um jornalista. Ou seja, eu aprendi naquele teste muito mais que aprendi nos quatro anos e meio da universidade. E isso não é um demérito para o curso superior. Apenas uma constatação de que como Lena era um ícone de ensinamento prático do fazer jornalístico. Tanto que meses depois fui fazer teste semelhante no Jornal da Paraíba, hoje fora de circulação, e passei no primeiro dia. Simplesmente porque sabia o que deveria ser feito.
Então, Lena foi o meu primeiro não e, ao mesmo tempo, o meu melhor sim para o jornalismo. Muito parecido com os “nãos” que recebemos no início da vida de nossos pais. Nãos que nos protegem, que nos ensinam, que nos endurecem. E, especialmente, que nos estimulam à superação.
Quando conheci Lena mais de perto, ainda alimentando a imagem da “toda poderosa”, me supreendi como ela podia ser tão educada e doce. Firme sim na hora de dar e sustentar suas opiniões. Mas muito educada e gentil no trato social.
Só tenho a agradecer.
E desejar que Nossa Senhora a receba e leve sua alma para os braços de Deus.