A revelação do deputado estadual Hervázio Bezerra apontando pressão dentro do PSB para que o governador João Azevedo conclua o segundo mandato sem deixar o governo confirma o interesse majoritário – mesmo que escondido – do partido, e joga uma luz sobre um dilema pessoal. No caminho do engenheiro que virou governador, em determinado momento, se apresentará uma bifurcação.
De um lado, a possibilidade de disputar uma vaga no Senado Federal, ou até mesmo de deputado federal, garantindo para si um mandato e deixando que o PSB siga seu rumo. Do outro, a possibilidade de permanecer no governo e trabalhar para eleger um sucessor, previamente escolhido e apoiado pelo PSB, acabando o mandato para ir pra casa.
Uma escolha entre o Eu ou o Nós.
Na cabeça do governador, certamente, são muitas as variáveis para decidir sobre o tema. O primeiro deles, sem dúvida, reside numa questão bem pessoal. A família terá, neste sentido, papel decisivo. João percorreu uma trajetória impressionante para um professor, engenheiro e técnico de gestão. Virou governador da Paraíba e por dois mandatos. Pode muito bem concluir tudo e ir desfrutar a vida com a família, algo que ele já estava pensando, antes mesmo de virar governador. E, neste caso, ajudando o PSB a permanecer no poder. E, quiçá, com mais alguns pouco anos, sendo cotado para alguma disputa. Uma torcida incontida bate no coração de cada membro do governo e filiado ao PSB por essa decisão.
O desestimulante – para João – dessa escolha é ficar sem mandato. E sem influência no governo sucessório, perdendo ou ganhando, inclusive. Algo que aconteceu com o ex-governador Ricardo Coutinho.
A outra estrada leva ao paraíso onde a porta é estreita. Alguém, inclusive da própria família, pode dizer que ele deve fechar sim seu ciclo muito bem num mandato de Senador da República, mesmo que isso implique em saída do PSB do Governo. Ora, João não se apresenta como alguém com sanha de projeto político de poder e deixar o governo para ele seria até mais fácil Seu desapego, portanto, até o ajudaria na questão de lagar a gestão em abril de 2026 para pensar num mandato individual, permanecendo na política num universo menos enquanto se encaminha para aposentadoria.
O risco aí é o fato de que, ao deixar o governo, João não poderá mais controlar o que acontecerá pós abril. Aliás, esse fantasma será dimensionado ao máximo pelos seus companheiros a fim de que o desestimule de fazer o movimento de saída.
Sobre isso já falamos anteriormente, defendendo a tese de que, mesmo fora do Governo, se João Azevedo estiver com o tamanho eleitoral, seja por gratidão ou por empatia mesmo, será disputado como nome na chapa. Qualidade de governo para isso João tem.
O fato é que o PSB e seus integrantes tremem hoje com a possibilidade de dar adeus a um projeto de governo sem ao menos a possibilidade de disputar uma extensão. Estão há muito tempo dando as cartas. E deverão sim aumentar o poder argumentativo sobre Azevedo.
Não se sabe ainda se já estão com coragem de dizer abertamente ao governador o que pensam.
Mas é certo que se tremem quando vêem João se olhando no espelho, refletindo apenas a sua própria imagem. E a de mais ninguém.