O discurso de Bolsonaro na ONU foi ruim ou foi bom? Depende.
Se você for fã do Capitão Bolsonaro, e ainda o é, ele foi perfeito. Subiu à tribuna, pegou o microfone, num português perfeito, e, sem baixar a cabeça para país colonialista algum, reafirmou que ninguém mete o bedelho na Amazônia, distribuiu cacetadas contra o comunismo, os regimes cubanos e venezuelanos, em programas como o Mais Médicos, além de alfinetadas na França, na própria ONU e num monte de vagabundo terrorista que se escondia no Brasil.
Mas se você é apenas um brasileiro comum que esperava que o presidente do Brasil pudesse aproveitar a oportunidade de falar no palanque da ONU para reforçar relações diplomáticas, desfazendo mal entendidos, entre eles o da Amazônia, mostrando que há queimadas sim, mas que o Governo adotou tais e tais medidas, aceitando ajuda internacional, e dizer ao mundo que o Brasil do seu governo está conectado com as preocupações ambientais, de justiça social e respeito às diferenças, angariando a simpatia internacional, aí você deve ter considerado um desastre.
Porque Bolsonaro não fez nada disso que está descrito no segundo parágrafo. Ele foi mais Capitão do que Presidente.
Reproduziu o discurso que criou o Mito e o ajudou a eleger-se presidente. Não trouxe novidades porque reeditou suas falas. E, com isso, ajudou a aprofundar o fosse que separa o Brasil das principais nações do mundo. À exceção dos EUA, claro, o único a merecer referência elogiosa do Capitão.
Ora, Bolsonaro falaria ao mundo pela primeira vez após a polêmica da Amazônia, além de outros episódios pitorescos como desrespeitar a esposa do presidente Francês, Emanoel Macron.
Teve sim a oportunidade de contornar tudo isso com classe e elegância. Ao contrário, Bolsonaro fustigou a ONU na própria ONU!, ao chamar de “escravidão” o regime dos Mais Médicos, implantado pelo governo do PT no Brasil com ajuda de Cuba, acentuando que tudo foi feito com a anuência de dirigentes da entidade.
O Capitão, para desespero de qualquer ministro sensato das Relações Exteriores, generalizou os ataques “colonialistas” ao Brasil, e, “com elegência”, chamou de desinformado o presidente francês.
Ao tratar da Amazônia, reafirmou que a floresta não passa por queimada nem devastação alguma. Quem no Brasil, em Nova York, ou em qualquer lugar do mundo pode acreditar numa informação como essa?
Bolsonaro poderia reconhecer o problema, acentuar que isso não privilégio de seu governo e apontar medidas adotadas pela gestão. Fez completamente o contrário. Praticamente disse: “Vão cuidar do quintal de vocês que do nosso cuido eu”. E, com tal bravata, além da simpatia, rejeita a sensibilidade mundial em favor de colaborar com o tema.
Com a França de Macron, do mesmo jeito. Uma oportunidade para contemporizar com o presidente francês. Mas para que se rebaixar, não é mesmo?
Resumo da ópera. Como Capitão, Bolsonaro deu um show. Com o presidente de um país do tamanho do Brasil em plena era da globalização, não.
Como capitão, seguiu o script que parte de seus admiradores adora. Como presidente, tudo na contramão do que poderia fazer.
No campo diplomático, aceno zero. À exceção de Trump. Mostrando que seu interesse no mundo se resume aos EUA.
Na questão da Amazônia e ambiental, pelo seu discurso, está tudo uma maravilha, afastando qualquer empatia ou compaixão do mundo, ao contrário, incitando a antipatia.
Além de tudo isso, ainda se percebeu uma coisa. Bolsonaro não disse uma vez sequer a palavra “pobre” ou “pobreza” em todo seu discurso. Deu a impressão ao mundo que esse combate histórico não faz parte de sua agenda.
Melhorar a economia, reerguer o Brasil. Maravilha.
Mas, para a ONU e para a parte do mundo que presta, tem que ser para todos.