Para o filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, o homem que usa frases dos outros em detrimento de suas próprias é como um careca que usa peruca. No caso da carta à nação, por algum motivo ou vários, Bolsonaro resolveu usá-la. E, apesar da decepção dos aliados mais radicais, o fez no momento certo, mesmo que forçadamente.
Conquistando apenas uma parte da opinião pública, mas não representado o todo, e sem condições de reunir apoio político necessário nem adesão completa das forças armadas, Bolsonaro, certamente, percebeu que não tinha como avançar. E pior: que já havia esticado a corda demais e que estaria completamente vulnerável diante dos excessos cometidos a partir do dia 7 de setembro.
Sem contar nos receios advindos dos processos contra ele próprio e contra os filhos.
Recuar, mais do que estratégia, foi uma condição de salvar a pele. A própria e a do governo. Porque, para além das possibilidades jurídicas e políticas decorrentes, os movimentos do presidente ainda comprometiam a economia do Brasil. E a economia, qualquer criança sabe, é fundamental para elevar ou derrubar a imagem de um presidente da República.
Para além de ter sido impelido a tanto, Bolsonaro pode colher benefícios da peruca que resolveu usar.
Acima da questão econômica e jurídica, há ainda capacidade de colher frutos eleitorais. Porque, apesar da decepção, os aliados de Bolsonaro não tem outra escolha a fazer. Continuarão com ele de todo jeito, porque ele continuar defendendo todas as outras teses que os unem. E sabem que o “Bolsonaro paz e amor” é peruca. E não realidade.
Assim, Bolsonaro continuará com sua base e, sem criar confusão que não existe, ainda pode ampliar para um eleitorado que não gosta da esquerda, mas que vê nele hoje uma ameaça à estabilidade.
Basta ele combater apenas o inimigo que ele tem, o PT. E não os que ele inventa.